A prevalência de numerosas doenças que afetam a indústria da carcinicultura tem promovido o desenvolvimento de várias estratégias de manejo da saúde. Algumas incluem uma maior biossegurança e utilização de animais livres de patógenos específicos, e em casos mais extremos,
o uso de produtos químicos e antibióticos.
No entanto, devido à natureza da carcinicultura em viveiros ao ar livre, onde a maior parte do camarão de cultivo é produzido globalmente, muitas vezes não é possível o cultivo de animais em uma bolha, eliminando completamente a presença de todos os agentes patogénicos.
De fato, nos sistemas tradicionais de viveiros, a acumulação contínua de sedimentos e a subsequente deterioração da qualidade da água são conhecidos por incentivar o crescimento de muitos patógenos, incluindo os Vibrios patogénicos.
Promover o crescimento de microalgas pode ajudar a manter a qualidade da água, mas isso às vezes pode ser difícil de manejar, e estes sistemas são propensos a flutuações de pH e oxigênio dissolvido que podem estressar os animais.
A tecnologia de bioflocos foi introduzida para resolver algumas destas questões. Isto é alcançado através da adição de carbono à água, levando à conversão de matéria orgânica potencialmente nociva e lodo em biomassa consumível. Tal processo pode eliminar ou reduzir significativamente a necessidade de troca de água, sendo assim mais amigável ambientalmente, ao mesmo tempo que oferece maior biossegurança.
A tecnologia de bioflocos tem sido bem-sucedida em todo o mundo; no entanto, os custos operacionais podem ser significativamente maiores para manter os bioflocos em suspensão constante. Uma abordagem potencialmente mais equilibrada entre a utilização de microalgas e bioflocos na aquicultura é conhecida como Aquamimicry.
Aquamimicry é um conceito que se procura simular condições estuarinas naturais através da criação de florescimentos de zooplâncton (principalmente copépodos) como nutrição suplementar para o camarão cultivado e bactérias benéficas para manter a qualidade da água. Isto é feito através da fermentação de uma fonte de carbono, tais como farelo de arroz ou trigo, com probióticos (como o Bacillus sp.) liberando seus nutrientes. Este método é, de certa forma, semelhante à tecnologia de bioflocos, mas existem algumas diferenças fundamentais.
Em primeiro lugar, a quantidade de carbono adicionado é reduzida e não depende estritamente das proporções de input de nitrogênio. Em segundo lugar, em vez de encorajar e suspender grandes quantidades de bioflocos, os sedimentos são removidos em sistemas mais intensivos para serem reutilizados por outros animais. Idealmente, a água mimetiza a aparência e a composição da água estuarina natural que inclui microalgas e zooplâncton.
Quando tal equilíbrio é atingido, o pH e as flutuações de oxigênio dissolvido são minimizadas, e não há necessidade de antibióticos ou produtos químicos porque o farelo de arroz fornece nutrição para o zooplâncton e bactérias (como um prebiótico) para criar “simbióticos”, que são suplementos dietéticos ou ingredientes que sinergicamente combinam pré e probióticos.
A ideia inicial para o desenvolvimento deste protocolo ocorreu na Tailândia durante os surtos de doenças na década de 1990. Naquela época, notou-se que em alguns viveiros extensivos, o camarão estava crescendo bem e livre de doenças, apesar de estar na proximidade de viveiros infectados. Não eram utilizadas rações formuladas, pois os produtores tinham recursos limitados. Em vez disso, apenas farelo de arroz foi utilizado e foi visto como uma razão em potencial para o melhor desempenho em viveiros extensivos.
Com o passar do tempo, e após extensos testes e erros, um protocolo lentamente se desenvolveu.
Quando este conceito foi introduzido pela primeira vez fora da Tailândia, muitos produtores decidiram primeiramente testar este conceito em seus viveiros de pior desempenho. Isso às vezes era visto como uma última tentativa antes de mudar para a piscicultura ou abandonar a aquicultura completamente. No entanto, no primeiro ciclo, os custos de produção dos viveiros foram reduzidos pela metade, e a prática expandiu-se significativamente para mais viveiros.
Atualmente, alguma forma deste conceito está sendo adotada em vários países, incluindo Vietnã, China, Índia, Equador, Coréia e Egito. Tal como acontece com qualquer fazenda, existem algumas variações para o protocolo, dependendo dos recursos disponíveis e da experiência do produtor.
O sucesso desta abordagem inclui a diminuição do fator de conversão alimentar, minimizando a troca de água e eliminando doenças. Acredita-se que uma variedade de fatores contribui, tais como uma melhor nutrição do animal, reduzindo o estresse associado com a flutuação da qualidade da água e minimizando as condições ambientais favoráveis aos patógenos.
Fonte: Revista ABCC Edição Junho de 2017.
Autor: Nicholas Romano, Ph.D.Professor Sênior (Fisiologia do Peixe), Departamento de Aquicultura, Faculdade de Agricultura. Universiti Putra Malásia – Serdang, Malásia.