Acompanhando a evolução e o desempenho da carcinicultura marinha mundial, facilmente se verifica que ao longo do seu desenvolvimento, mais precisamente nos últimos 25 anos, a atividade se confrontou com dezenas de patologias que afetaram de forma significativa a produção do camarão cultivado e dos crustáceos nativos (caranguejos, camarões e lagostas) de todo o mundo. Em realidade, a dispersão desses patógenos com maior intensidade da Ásia para as Américas, e vice-versa, se deu sempre via importações das regiões produtoras / exportadoras, para as regiões importadoras / consumidoras.
Do ponto de vista das perdas econômicas, se considerarmos os últimos 25 anos, as doenças ou cepas virais, apenas em camarões marinhos cultivados, causaram prejuízos financeiros superiores a US$ 20 bilhões, sem falar nas incalculáveis perdas econômicas e sociais, impossíveis de contabilizar, quando incluídos os crustáceos naturais.
Para se compreender a importância de se preservar a sanidade dos crustáceos nativos e cultivados do Brasil, basta comparar o desempenho dessa atividade em alguns países produtores, como por exemplos:
Equador: área total do país, 256.370 km² / 600 km de
costa. Área cultivada, 220.000 ha. Área Passível de Expansão, 30.000 ha; Produção, 406.334 t.
Exportações 363.570 t / US$ 2,45 bilhões em 2016;
Vietnã: área total do país, 331.114 km² / 4.444 km de costa. Área cultivada, 550.000 ha; Produção, 486.859 t.
Exportações US$ 3,3 bilhões em 2016;
Brasil: área total do país, 8.515.767 km² / 8.000 km de
costa. Área cultivada, 25.000 ha, Área Passível de Expansão,
1.000.000 ha. Produção, 60.000 t.
Exportações, 526 t / US$3,1 milhões em 2016).
Ocorre que o Brasil produziu e exportou mais camarão cultivado do que o Equador, bem como ocupou o 2º lugar das exportações do setor primário do Nordeste e o 1º lugar das exportações do setor pesqueiro brasileiro em 2003. Além disso, se destacou em 1º lugar nas importações de camarão pequeno / médio dos EUA em 2003; e em 1º lugar nas importações de camarão tropical da União Europeia, em 2004, com o Equador sempre em 3º lugar.
O Brasil, por suas excepcionais condições edafoclimáticas, associadas a uma significativa produção de farelo de soja; a uma desenvolvida rede de infraestrutura básica, em termos de vias de acesso, energia elétrica e comunicações; à proximidade dos mercados da União Europeia e dos EUA; e ao expressivo mercado interno, desponta como detentor do mais promissor potencial para a exploração da carcinicultura marinha.
Sem dúvida são reais as chances desse País de vir a ocupar a liderança mundial da produção e exportações de camarão marinho cultivado. Acrescente-se a essa possibilidade a contribuição adicional para a mais extraordinária agregação de valor ao farelo de soja, que embora ocupe posição de destaque nas exportações do setor primário vem sendo exportado como commodity, com valores muito baixos (US$ 0,2/kg). Diante desse fato observe-se que quando se considera que no peso do camarão o farelo de soja já corresponde a 40%, o preço médio de venda do camarão cultivado exportado pelo Equador em 2016 foi de US$ 7,6/kg. Ou seja, se ao invés de se querer importar camarão do Equador, o Ministro Blairo Maggi incentivasse e apoiasse o incremento da produção brasileira de camarões, certamente que como maior produtor mundial de farelo de soja, o Brasil seria o grande beneficiado.
Fonte: Revista ABCC Edição Junho de 2017