Atraídos pela valorização do camarão provocada pela doença da “mancha branca”, que afeta a produção local, empresários cearenses de ramos como a fruticultura, entre outros, estudam investir na carcinicultura para ampliar a rentabilidade de seus negócios. Pequenos produtores da região do Alto e Médio Jaguaribe já estariam realizando a mudança utilizando água de poços perfurados próximos ao leito do rio, que foi impactado pela seca dos últimos cinco anos.
Os empresários cearenses que cogitam entrar no ramo planejam a utilização de uma nova tecnologia que reduz o consumo de água na produção, em bioflocos (do inglês Biofloc Technology System – BFT). O sistema consiste no uso de técnicas para elevar a produção e, ao mesmo tempo, reduzir custos com captação e renovação das águas. Projetos-piloto já estariam começando a serem executados no Estado, diz uma fonte.
“Ninguém sabe como será a quadra chuvosa do próximo ano, nem como será a recuperação da água do subsolo. Estamos estudando os custos (dessa produção), frequentando seminários, mas nada de tomada de decisão agora, só no próximo ano ou depois”, afirma um empresário do ramo da fruticultura que quis se identificar. Ele avalia o mercado da carcinicultura como “muito promissor”.
O empresário ainda aponta que, apesar do grande investimento necessário para iniciar e manter o cultivo de camarões com essa tecnologia, a alta rentabilidade do negócio compensa o dinheiro desembolsado.
Além disso, a região entre os municípios de Itaiçaba e Jaguaribe também não teria sido afetada pelo vírus da mancha branca, que ataca o camarão e tem comprometido a produção do crustáceo no Estado.
O empresário cearense Cristiano Maia, da Fazenda Potiporã, admite ter sido procurado por um grupo de empresários a respeito do fornecimento do pós-larva (filhote) do camarão e ter demonstrado sua expertise no assunto, com a produção em laboratório e utilização de tecnologias com manipulação genética para criar camarões mais resistentes a vírus como a mancha branca.
Recuperação
Maia, que também preside a Associação Cearense de Criadores de Camarão (ACCC) e a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Camarão do Ceará, afirma que a produção de camarão no Nordeste caiu 40% entre maio do ano passado e abril deste ano por conta de perdas relacionadas ao vírus da mancha branca. Mas destaca que já há uma recuperação do setor e que se espera que a produção retorne, em 2018, aos níveis de 2015.
“Agora, no mês de maio, começou a haver uma recuperação dos viveiros. O preço do quilo do camarão já caiu cerca de 30% desde a Semana Santa. Se espera ainda uma recuperação de 15% no segundo semestre, trazendo alívio ao consumidor”, aponta o empresário.
Ele destaca, entretanto, que assim como a agricultura, é necessário muita água para a produção de camarões. “O mercado de camarão pode estar bom agora, mas em breve a produção do Ceará retomará os níveis normais”, acrescenta o empresário.
Contra a importação
Na semana passada, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) ingressou na Justiça Federal de Brasília com um pedido de liminar para suspender a decisão do Ministério da Agricultura, que autoriza as importações de camarão do Equador. Segundo Maia, o principal impacto da entrada do camarão equatoriano ao mercado local, sobretudo o cearense, estaria ligada a doenças trazidas pelos crustáceos importados.
Maia afirma que o Equador tem dez tipos de doença que afetam o camarão, das quais sete nunca foram registradas no País. Conforme ele, a entrada de novas doenças irão prejudicar a produção local e podem levar a nova quebra de safra, como aconteceu com a mancha branca.
As doenças não trazem risco para a saúde humana, mas causam uma mortandade alta na produção em cativeiro, provocando prejuízo para o setor.
Produção
“O mercado de camarão pode estar bom agora, mas em breve a produção do Ceará retomará aos níveis normais”
Cristiano Maia – Presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão (ACCC)