“Está em marcha um processo de elevar a produção”
Publicação: 2014-09-14
Vinícius Menna
Repórter
Com retomada das exportações ainda em 2013 e uma expectativa de crescimento no Rio Grande do Norte de cerca de 10% na produção, a carcinicultura agora precisa de mais atenção dos governos nas esferas estadual e federal. É isso que defende o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. “O problema básico que restringe o crescimento da carcinicultura é o que diz respeito ao licenciamento ambiental e a disponibilidade de financiamentos”, afirma.
À TRIBUNA DO NORTE, o engenheiro de pesca comenta o cenário atual para a criação de camarão, aponta o que precisa mudar para que a atividade volte a crescer no RN, além de comentar a expectativa para o fechamento do ano e para 2015, que passam pela realização da Feira Nacional do Camarão, prevista para novembro, no Ceará.
Adriano Abreu
O presidente da ABCC, Itamar Rocha, fala sobre o momento favorável atravessado pela carcinicultura, mas também aponta desafios
Qual é o cenário atual da carcinicultura no país?
A carcinicultura brasileira, depois de sofrer um processo antidumping [prática de exportar um produto a preço inferior ao mercado interno do país exportador] dos Estados Unidos e pelas bruscas e acentuadas desvalorizações cambiais, sem nenhuma compensação financeira para enfrentar a concorrência do Equador e da Asia, perdeu a competitividade de tal ordem que retirou completamente o nosso camarão do mercado internacional. A saída foi voltar-se para o mercado interno, que passou a receber toda nossa atenção e produção.
Há em marcha um processo de intensificar a produção, com melhor produtividade para este ano de 2014. Atualmente são 1.800 produtores ativos, na sua maioria absoluta – 95% – atuando como micro, pequenos e médios empreendimentos, com a utilização de 22.000 hectares de viveiros e uma produção esperada para o presente ano de 100.000 toneladas.
Desejamos acrescentar que existe um esforço regional voltado para a capacitação dos micros e pequenos produtores e dos trabalhadores das empresas, conduzido pela ABCC com o apoio financeiro do MPA.
E especificamente no Rio Grande do Norte, qual é o momento atual da carcinicultura? Os resultados tem sido bons de janeiro a agosto deste ano?
A carcinicultura do Rio Grande do Norte, que ainda se recupera das grandes enchentes de 2008 e 2009, foi em parte afetada pelos vírus IMNV e WSSV (mancha branca) que incidem sobremaneira na sobrevivência e, naturalmente, na produtividade dos cultivos. Apesar desses entraves, os resultados de janeiro a agosto são animadores e fazem preveremos que haverá um aumento de produção, atingindo 25 mil toneladas em 2014, um crescimento de 10% em relação as 23 mil toneladas de 2012.
Embora o camarão tenha retornado à pauta de exportação do Rio Grande do Norte em 2013, as vendas continuam voltadas com mais força para o mercado interno. Qual o percentual da produção tem ficado dentro do país? E por que as vendas para o exterior não tem aumentado?
Em realidade, o foco principal das vendas do camarão cultivado continua sendo o mercado interno. Desde 2009, praticamente 100% da produção interna está destinada a abastecer o mercado doméstico, cuja demanda cresce com a melhoria da renda da população que inclusive já mostra uma forte tendência de consumo para o camarão com valor agregado. Em realidade, graças a pujança do mercado interno, depois do baque com a perda das exportações, nesses últimos anos voltamos a crescer no Nordeste em número de produtores e em área.
Se voltar mais para o mercado interno é bom para o setor ou não?
O Brasil tem um potencial de consumo de camarão de tal ordem que, se devidamente explorado, pode demandar de três a quatro vezes a produção interna atual, basta comparar o atual consumo interno de camarão, de 0,55 kg per capita, com o de carnes vermelhas, por exemplo, que é de 55,3 kg per capita.
Por outro lado, na atualidade, o mercado internacional é igualmente favorável, em termos de demanda e preços. Por isso, podemos afirmar que, em questão de mercado, vivenciamos um momento auspicioso para o camarão cultivado no Nordeste, o que precisa ser implementado é a produção.
O preço do camarão está bom no exterior?
Pela crise que passou a produção asiática, decorrente de uma nova enfermidade, o volume das transações comerciais foi afetado e os preços sofreram acentuada elevação. Portanto, a resposta é sim, o preço do camarão no exterior é bom e atrativo para o produtor brasileiro.
Dá para dizer que o fechamento de 2014 vai ser bom?
Estamos com os preços competitivos porque o preço do mercado internacional tem subido e a demanda tem se mantido. Os preços estão muito parecidos no mercado interno e no internacional. O setor vem crescendo e acho que o Rio Grande do Norte vai crescer este ano. O número que estamos trabalhando é que a produção do Estado chegue a 25 mil toneladas.
Quais são os principais problemas que precisam ser resolvidos pelo próximo governador do Estado para que o setor possa se desenvolver daqui para a frente?
O problema básico que restringe o crescimento da carcinicultura potiguar é o que diz respeito ao licenciamento ambiental e a disponibilidade de financiamentos, tanto para investimento como para custeio da produção. Quem não consegue a licença ambiental também não pode pegar dinheiro junto aos bancos. Os juros dos bancos são bons, competitivos, mas mas sem a licença ambiental, o micro e o pequeno não tem acesso a esse crédito. E aí, sem o financiamento, não dá para investir nos custeios que a atividade exige. A ração é muito cara, os encargos sociais são caros, tudo no Brasil é caro, então existe uma falta de apoio à atividade.
O próximo governador prestaria um excelente serviço ao Rio Grande do Norte se fortalecesse institucionalmente o Idema (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente) e atuasse junto aos Agentes Financeiros Oficiais, especialmente o Banco do Nordeste (BNB), banco do Brasil e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para assegurar, diretrizes de promoção e fomento da carcinicultura potiguar.
Quais são hoje os principais estados produtores de camarão do Brasil?
Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe, Paraíba e Piauí.
E os maiores compradores do camarão do Brasil?
Posso dizer que mais de 99% está ficando no mercado interno. De janeiro a julho, apenas 217 toneladas foram exportadas no Brasil. Mas um dado interessante é que exportamos para França, Espanha e Vietnã. E o Vietnã é hoje o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador do mundo de camarão do mundo. E ele importou 10% de camarão da Potiporã, que fica em Pendências, do grupo Queiroz Galvão, nesses primeiros sete meses do ano.
Mas as exportações só vão realmente acontecer se houver incremento da produção, ou seja, se a gente mantiver o mercado interno abastecido, porque nós temos um compromisso com o mercado interno, e aumentar a produção. Aí o excedente – para não pressionar o mercado interno – seria direcionado para fora do país.
Como estão as expectativas para a Fenacam?
A Fenacam este ano vai ser em novembro. E vai ser no Ceará porque o Rio Grande do Norte, depois de dez anos, perdeu esse espaço. Nós esperamos que muitos representantes internacionais venham para a Fenacam esse ano, interessados em comprar o camarão do Brasil e fazer contratos pensando em 2015. A demanda está se mantendo, não vai reduzir pela crise, já que a Europa está se estabilizando, e os preços vão continuar se mantendo competitivos porque a Ásia não deve produzir tanto camarão daqui para a frente.
Qual a análise do senhor a respeito da possibilidade da extinção do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), defendida por alguns candidatos à presidência? O que o próximo presidente deve fazer para desenvolver a carcinicultura do país?
Não faz sentido a extinção do Ministério. Defendemos não apenas a permanência, mas e principalmente, o fortalecimento institucional do órgão para que ele possa promover e apoiar o desenvolvimento da pesca oceânica com todo seu potencial e dedicar parte considerável de sua estrutura orgânica ao desenvolvimento da aquicultura no Brasil.
O nosso potencial de produção aquícola em quase todas as macrorregiões brasileiras é de tal magnitude que, devidamente explorado, pode elevar o Brasil à categoria de um dos grandes produtores de peixe e camarão do mundo. O próximo presidente deveria fortalecer o Ministério, harmonizar o entendimento entre o ele e os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), implementar políticas públicas adequadas, eficientes e adotar ações setoriais voltadas especificamente para a expansão da carcinicultura, da piscicultura, com especial enfoque na área familiar.
Pensando nas perspectivas para o próximo ano, qual é a expectativa do setor para o ano de 2015?
Esperamos que seja um ano bom para a carcinicultura não apenas com a crescente demanda do mercado doméstico, mas também com as amplas possibilidades que oferece o mercado internacional.