O melhor e o mais caro camarão do mundo está no Nordeste brasileiro. É um tipo de camarão criado em cativeiro, no Ceará, em fazendas do Baixo Acaraú, na região da Costa Negra, no litoral Oeste do estado.
No local estão reunidos 33 associados, sendo 32 fazendas de criação de camarão e uma indústria de beneficiamento.
O camarão da Costa Negra tem características únicas e, por isso, ganhou o selo de indicação geográfica, depois de passar por um rigoroso processo de certificação de qualidade alemã. O documento é concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). No mundo, será o primeiro selo concedido a um crustáceo.
O selo funciona como um atestado da qualidade do produto ao consumidor. “O selo tem a vantagem de tornar o produto mais competitivo no mercado, porque a partir dele, mostra as características únicas desse produto, em termos de gosto de composição alimentar do camarão, nessas propriedades, e com isso vai ter um mercado mais abrangente”, explica Tomaz Machado do Carmo, do Sebrae de Sobral.
A produção de camarões é de 9 mil toneladas por ano, sendo que 99% ficam em supermercados, como os de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Somente 1% da produção é exportada. E os compradores europeus preferem o crustáceo, mesmo tendo que pagar 40% a mais do que o preço do mercado mundial.
O clima, o solo, o manejo modificam o sabor do camarão. E mesmo sendo criado em tanques, o gosto é semelhante ao dos que vivem no mar. Há dois anos o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) fez parceria com a associação dos criadores e dá suporte na orientação às fazendas. O cultivo do camarão movimenta toda economia local e gera quase 5 mil empregos.
“A gente vê o crescimento com a ampliação do mercado, de forma que isso interfira em toda a cadeia produtiva desse produto, não só beneficiando os produtores, que hoje estão nesse processo, mas os restaurantes, as vias de comercialização que hoje fazem parte desse movimento”, afirma Carmo, do Sebrae.
As fazendas da Costa Negra se estendem por 900 hectares de cultivo. A de Livino Sales fica em Acaraú e é a maior da região. Produz 120 toneladas de camarão por mês. “A Costa Negra, ela tem um diferencial muito grande, porque ela produz muito alimento natural, é uma área de solo escuro, que tem muita matéria orgânica”, explica Sales.
As outras propriedades são menores, mas lucrativas. A família de Cristiane Farias Muniz tem uma criação na cidade vizinha, chamada Cruz. “Nós temos 30 viveiros, produzimos em média 150 toneladas de camarão por ano.”
A retirada do camarão que foi engordado durante três meses é um momento importante para todos. “O nosso camarão aqui da região da Costa Negra, ele difere porque ele tem uma consistência maior de proteínas”, revela Cristiane.
Para ter a denominação de origem, o camarão precisa ser produzido a partir de larvas cultivadas na região. Com as melhorias no processo, o crustáceo chegará ao mercado com até 50 gramas.
Em Acaraú, no restaurante de Paulo Sérgio Souza, o camarão da Costa Negra já é um sucesso. A cozinha usa 800 quilos por mês. Há mais de 20 receitas. “A gente fez um camarão no espetinho, tipo brochete de camarão com limão e folha de siriguela, para dar um azedinho no final”, diz.
Os garçons foram capacitados pelo Sebrae para explicar todo o processo produtivo do camarão. Eles atendem a 200 clientes por dia. “Você experimenta pela primeira vez e depois nunca esquece na sua vida. Eu sou estrangeiro, sou italiano, é uma coisa que adorei aqui do Brasil”, opina o turista italiano van Beltrame.
E quem come o melhor camarão do mundo, recebe um certificado, com número de rastreabilidade que garante a origem do produto. “Você bota a senha, bota tudo, e você vai ver como é que foi feito aquele camarão, e acompanha todo o processo até chegar naquele prato”, ressalta Sales.
O grupo de produtores já negocia também o fornecimento do camarão para alguns dos melhores restaurantes do Brasil. “O camarão é bom demais para trabalhar, tem um tamanho excelente, é um camarão que veio para ficar”, diz o empresário Souza.