A hora do camarão orgânico
Empresários cearenses investem no novo produto de olho no mercado europeu e na popularização nacional
Eles já se consolidaram como líderes da carnicicultura no Ceará e provaram que têm o melhor produto do mercado, atestados por selos de qualidade de entidades certificadoras nacionais e internacionais. Com 8 mil toneladas de camarões por ano, produzidos em tanques de uma antiga fazenda salina banhada pelas águas da Costa Negra, em Acaraú, no litoral oeste cearense, Livino Sales e Fabrício Ribeiro, sócios da Nutrimar Pescados, souberam como ninguém impulsionar o setor no Brasil. No último ano, se empenharam em popularizar o consumo do camarão no mercado interno, faturaram R$ 60 milhões e agora querem conquistar a Europa com um novo produto, o camarão orgânico. Dez por cento da produção total da Nutrimar é voltada para o cultivo orgânico, o que impõe ao sistema uma cadeia de produção de peixes, ração, algas, fertilizantes e bactérias rastreadas que não agridem o meio ambiente. Com o dólar em baixa, todas as exportações foram focadas nos orgânicos, que agregam 20% a mais do valor dos crustácecos convencionais. “Vivemos um momento crítico para exportações do camarão convencional, mas por outro lado o mercado europeu quer um produto mais natural possível e que respeite o meio ambiente”, diz Ribeiro. “Em cinco anos, queremos ser os líderes do segmento.” Alcançar produções como a da China, maior potência mundial em produção de pescados, será difícil, mas a dupla aposta nas particularidades do seu camarão para se posicionar na Europa. “Nós, brasileiros, temos um dos melhores produtos do mundo. Se quisermos, e se houver colaboração política, avançaremos no mercado mundial”, exclama Sales. “É preciso entender que temos capacidade para produzir de forma sustentável e ao mesmo tempo estimular a economia. Isso não é extrativismo.”
A popularização: Em seis anos, o consumo de crustáceos aumentou 40% somente no Brasil
O polo de carnicicultura criado na região fez surgir uma nova realidade local. As produções dos municípios de Acaraú, Jijoca, Cruz e Itarema abastecem quatro frigoríficos de camarões. As águas da Costa Negra conferem ao crustáceo qualidade nutricional superior. Os empresários pleiteiam desde 2009 no Instituto de Propriedade Industrial (Inpi) o selo de Denominação de Origem Comprovada (DOC) para agregar ainda mais valor de mercado aos camarões da região. “Seria uma valorização de pelo menos 40% para os convencionais”, explica o carnicicultor Ribeiro. A Nutrimar acompanha, orienta e compra a produção total de 32 produtores locais, mas o cultivo orgânico está centralizado na fazenda própria. “Todo o ciclo do camarão orgânico é produzido aqui, com acompanhamento diário e rigoroso. Os peixes que compõem a farinha que alimenta os camarões são produzidos aqui, de forma totalmente natural. A ração e a farinha destes peixes também são processadas na fazenda, assim como os nossos laboratórios são responsáveis por desenvolver as algas e bactérias necessárias para fazer o controle biológico dos tanques”, explica Ribeiro. “Este sistema de cultivo totalmente natural e sustentável, somado à qualidade já comprovada que as águas da Costa Negra confere aos crustáceos, atende perfeitamente à demanda do mercado europeu, tradicionalmente mais exigente”, completa Sales. “Por isso temos condições de exportar o produto, mesmo neste momento não tão bom economicamente.”
Por enquanto, os orgânicos são produzidos exclusivamente para exportações, mas a popularização do camarão entre os brasileiros pode acelerar o processo de inserção do produto orgânico no mercado doméstico. “Acreditamos que isso vá acontecer logo. Pode ser que ainda em 2011 o camarão orgânico entre no mercado de varejo”, diz Ribeiro. “O Brasil também está atento às questões sustentáveis.” E o empresário tem razão, o brasileiro está consumindo mais pescados. Segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura, o consumo no País aumentou 40% em seis anos. Em 2003, a média de consumo/habitante/ ano era de 6,46 kg e em 2010, ficou em 9 kg/habitante/ano.
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Realmente sentimos que a demanda aumenta ano a ano. Hoje, trabalhamos 365 dias no processamento e beneficiamento de camarões”, revela a gerente do frigorífico CajuCoco, um dos quatro instalados na região de Acaraú, Maria Anatália Silva. “A carnicicultura está mudando de perfil.” O aumento no consumo, em parte, foi resultado da queda nas exportações dos camarões convencionais. “Havia mais camarão no mercado e o preço ficou acessível para as classes C e D e o camarão orgânico fará parte deste processo”, argumenta Sales.
Viviane Taguchi, de Acaraú (CE)
Mudança de hábitos
A queda nas exportações gerou uma maior oferta no mercado interno e preços mais baixos, acessíveis para as classes C e D. Em um ano, a Nutrimar Pescados dobrou o seu faturamento
http://www.terra.com.br/revistadinheirorural/edicoes/75/artigo208556-2.htm